Na Europa Ocidental, testemunhamos actualmente um «momento populista» que assinala a crise da hegemonia neoliberal. O eixo central do conflito político situar-se-á entre os populismos de direita e de esquerda. Ao estabelecer uma fronteira entre «o povo» e «a oligarquia», uma estratégia populista de esquerda poderia congregar as várias lutas em curso contra a subordinação, a opressão e a discriminação.

Esta estratégia reconhece que o discurso democrático tem um papel crucial no imaginário político das nossas sociedades. E que, através da construção de uma vontade colectiva, mobilizando as vontades comuns de defesa da igualdade e da justiça social, será possível combater as políticas xenófobas promovidas pelo populismo de direita.

Ao redesenhar as fronteiras políticas, este «momento populista» aponta para um «regresso do político» após anos de pós-política. Um regresso que pode abrir caminho a soluções autoritárias – através de regimes que enfraquecem as instituições da democracia liberal – mas que pode também conduzir a uma reafirmação e extensão dos valores democráticos.


Sobre o Autor

Chantal Mouffe (Charleroi, 17 de junho de 1943) é uma cientista política pós-marxista belga. Desenvolve trabalhos na área da teoria política. Estudou em Lovaina, Paris e Essex e tem trabalhado em várias universidades na Europa, América do Norte e América Latina. Foi professora convidada em Harvard, Cornell, Princeton e no Centre National de la Recherche Scientifique. De 1989 a 1995, foi diretora de departamento no Collège International de Philosophie, em Paris. Atualmente, é Professora de Teoria Política na Universidade de Westminster, no Reino Unido.